Em baile, homens cobram R$ 15 para dançar com mulher sem parceiro

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O cavalheiro tem que estar limpinho e cheiroso aí as mulheres procuram bastante. Tem que ser cavalheiro mesmo", Maurílio Jorge dos Santos, personal dancer.

Dançar pode parecer simples, mas, sem muita iniciativa dos homens nas pistas ou por não se sentirem à vontade com os poucos pretendentes, o ato virou motivo de investimento para o público feminino. Nos bailes da melhor idade tem homem cobrando R$ 15 para dançar com a mulherada. Aquelas que não abrem mão de mexer o corpo com as músicas têm que pagar os chamados personals dancers para não ficarem sentadas.


No clube de dança Janete Martins, em Campo Grande, quem não faz isso tem sorte. Depois de mostrar que as irmãs viúvas Lionaides, Aide e Joana Figueiredo estão em busca de namorados justamente para conseguirem dançar – e só para isso – chegou a vez de contar o lado de alguns profissionais que ganham a vida sendo os acompanhantes pé de valsa para essas mulheres com 60+.

Há 30 anos na profissão, José Milton Barbosa, de 75 anos, é um dos mais velhos no local.
Quem indica os serviços dele é Tereza Brites, filha de uma das irmãs. Ela já contratou o dançarino para alegrar a noite da mãe e das tias na pista.

 

José Milton Barbosa dança há 30 anos e cobra R$15 por cinco músicas (Foto: Osmar Veiga)
José comenta que cobra R$ 15 para dançar o que ele chama de seleção, que contém cinco músicas sem pausas. Isso se for apenas uma mulher. Já aquelas que querem perdurar a festa até o final, o valor fica em R$ 150. Se for mais de uma, sobe para R$ 200.

“Sou de Rio Brilhante, mas criado em Dourados. Eu sempre dancei, sou profissional há 30 anos. Todo mundo que dança cobra, porque eu sou o mais velho da turma, não vou ganhar também?”, brinca. A procura, segundo ele, é constante e não faltam clientes. “Eu amo o que eu faço, danço porque eu gosto e preciso ganhar. As mulheres procuram muito, meu celular estoura.”


Não foi só José Milton que dançou com as irmãs viúvas, Maurílio Jorge dos Santos também já foi pago para balar com elas. Aos 64 anos ele conta que foi convidado para ser personal recentemente, mas que já dançava desde a pandemia de covid-19. O valor cobrado é o mesmo do amigo José Milton, R$15 a sequência e R$200 quando é mais tempo.

Danço com todo mundo que gosta de dançar. Tem dama que ninguém tira elas para dançar. Antes eu fazia de graça. Ai tem umas que só querem dançar com você ei não dá porque assim é namoro. Se fosse assim arrumava uma namorada. Gosto de dançar com todas. Falta homens para dançar nos bailes. Eu uni o útil ao agradável".

A procura é grande, mas ele ressalta que para que elas realmente gostem, o homem precisa ser cheiroso e cavalheiro. "Tem que estar limpinho e cheiroso aí as mulheres procuram bastante. Tem que ser cavalheiro mesmo".

Mais novo na profissão, Rodrigo Lucas, de 29 anos, dança há um ano nos bailes com a mulherada. Ele conta que a procura é maior na faixa de 50 a 60 anos. Para ele, o negócio surgiu como ideia das amigas do estúdio onde ele faz aulas.

“As mulheres começaram a me convidar: ‘Quer ir no baile com a gente?’ Como já existe isso, vários homens fazem, e minhas amigas falaram que eu daria um bom personal. Elas falaram de dar uma ajuda de custo no início e tudo. Eu ia até de graça porque gostava. Me apaixonei pela dança mesmo.”


O trabalho custa R$ 200 por três horas dançando, mas, assim como José, o preço aumenta caso Rodrigo tenha que dançar com as amigas da contratante, por exemplo.

“Comecei assim, aí fiquei conhecido nos bailes. Elas querem tranquilidade e respeito, então elas preferem contratar. É algo profissional. A gente vem para trabalhar e elas, para se divertir. Tenho um emprego e estou conseguindo conciliar, mas dá pra viver disso sim."

Maria Mendes, de 60 anos, é professora aposentada e recorreu a Rodrigo para poder dançar na festa. Apesar de ouvir que essa era uma boa saída para não ficar só vendo as pessoas dançarem, ela demorou para, enfim, contratar.

 
“Faz pouco tempo. Eu sempre gostei de dançar, mas estou aprendendo. Não é sempre que contrato. Eu chamei ele, ele vem e dança só com você. A não ser que tenha mais amigas que queiram também. Eu pago até o final do baile. Aqui é o que tem”. Tímida, ela prefere não ser fotografada dançando.

Para ela, o problema é a concorrência, com muitas mulheres para poucos homens. “Tem muito casal no baile e, quando não tem, são 10 homens para 100 mulheres, por exemplo, e não é todos que dançam, principalmente comigo que sou mais baixinha. Achei uma pessoa maravilhosa, me sinto bem”.