É doloroso, mas às vezes aquela que mais deveria nos apoiar é quem mais nos coloca para baixo
Quando imaginamos a maternidade, do ponto de vista dos filhos, a primeira imagem que nos vêm à cabeça são aquelas mães amáveis, um porto seguro para o qual voltar sempre que precisarmos de colo e carinho.
E não é à toa que pensamos dessa forma, pois somos bombardeados a todo instante com imagens de uma maternidade perfeita, de uma mulher que sempre estará lá por nós, ideal alimentado pela mídia e por histórias romantizadas sobre a beleza de ser mãe.
Então, imagine só a dor que é ter no lugar dessa figura de aconchego alguém que repele seu filho, usa de todas as informações que tem contra você – e já que ela o criou, não são poucas – e age conscientemente para lhe fazer mal. Pode parecer um roteiro maquiavélico de filme de terror a mãe que só falava mal sobre tudo o que o filho era e fazia, mas acredite, é mais comum do que gostaríamos.
Como são figuras que estão conosco muitas vezes desde antes mesmo de termos nascido, para os casos de mães e filhos biológicos, o impacto das atitudes dessas mulheres pode afetar nossa vida até a fase adulta. Crescer rodeado por alguém que o desvaloriza pode criar padrões tóxicos de comportamento, dificultando a forma como o filho dessa mãe negativa interage com outras pessoas.
Existem aquelas que são más a todo o tempo, minando nossa autoestima, fazendo-nos questionar nosso valor e lugar no mundo, que podem até partir para a violência verbal ou física.
Essas mulheres certamente foram a inspiração de vilãs como a Rainha Má da Branca de Neve, a madrasta má da Cinderela, entre tantas personagens escabrosas que nos atormentavam na infância e nos seguiram até a vida adulta.
Apesar do dano que infligem, algumas dessas mães só estão reagindo ao próprio descontentamento, e como nossa sociedade não permite nenhuma válvula de escape para a frustração materna, toda a negatividade desse indivíduo acaba sendo despejada na criança.
Se o choque para os filhos já é grande quando nossas expectativas não são atendidas sobre aquela mãe dos sonhos, que dirá para elas! Nossa sociedade esconde muitos fatos cruciais sobre como verdadeiramente é a maternidade.
As histórias sobre filhos sempre obedientes, calmos e gratos são completamente refutadas, uma vez que a criança não é mais uma ideia, e sim um ser humano completo na sua frente. É agora que a mulher é confrontada com a responsabilidade de fazer parte ativamente, para o resto de sua vida, da criação de uma pessoa completa, desde o aspecto físico até o emocional. E este é um dever que, muitas vezes, elas não estão preparadas para suportar.
Não estou dizendo que este descontentamento seja uma justificativa para as práticas nada amáveis que estas mulheres têm com os filhos, mas é importante entender de onde vem a ira de quem ataca você para quem sabe, se possível, melhorar a convivência. E talvez um melhor convívio seja algo a se considerar uma prioridade quando o seu algoz é quem o trouxe a este mundo louco e com o qual, muito provavelmente, você terá de conviver por muitos anos.
Um passo essencial, bem difícil para alguns, é afastar sua mãe da sua vida. Sem acesso às informações mais a fundo sobre o que acontece com você, ela não poderá criticar seu ser, suas atitudes nem sabotar algum de seus planos. Procure alguém em quem você confie para desabafar, que você saiba que não contará nada para ela, assim você poderá comentar sobre seu cotidiano sem o medo de ser rechaçado.
Por fim, busque ajuda psicológica. Você pode afastá-la para sempre, mas os resíduos do mal que ela lhe fez na infância o afetaram por anos. Com ajuda profissional, você saberá identificar os padrões, como não se abalar tanto com as críticas e até, quem sabe, conviver melhor com sua mãe. Blindar-se emocionalmente contra a própria mãe não se parece nada com o que nos contaram a vida inteira, mas ter esse pedaço da sua história por perto, às vezes, é necessário.