Milei conquista vitória 'surpreendente' em eleições legislativas na Argentina

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Após meses de incertezas — incluindo uma derrota nas eleições legislativas da província de Buenos Aires em 7 de setembro, escândalos de corrupção e uma crise econômica que exigiu a ajuda de Donald Trump — o presidente da Argentina, Javier Milei, teve uma sólida vitória nas eleições nacionais de meio de mandato neste domingo (26/10).

De acordo com os resultados iniciais, com 91% dos votos apurados, o Libertad Avanza, partido governista, obteve 40,84% dos votos, com vitórias contundentes na cidade de Buenos Aires e nas províncias de Córdoba e Santa Fé.

A coalizão opositora Fuerza Pátria + aliados vinha em segundo, com 31,66%.

"Hoje foi um dia histórico. O povo argentino deixou a decadência para trás e optou pelo progresso. Hoje passamos por um momento decisivo. Hoje iniciamos a construção de uma grande Argentina", afirmou Milei em seu bunker eleitoral após o anúncio dos resultados.

 

Nesta votação, os argentinos renovaram metade da Câmara dos Deputados (127 legisladores) e um terço da Câmara Alta (24 senadores), mas, acima de tudo, deram seu apoio ao presidente atual.

O jornal argentino Clarín classificou o resultado como um "triunfo surpreendente" do presidente, que "ganhou em quase todo o país". Analistas diziam acreditar que a sigla do presidente teria um desempenho inferior ao que foi registrado.

A maior surpresa foi como o partido de Milei diminuiu a diferença na província de Buenos Aires, principal distrito eleitoral do país, onde há quase um mês e meio havia perdido por 14 pontos para a oposição peronista e agora está à frente por menos de um ponto.

 

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O pleito também foi marcado pela grande abstenção.

A Câmara Nacional Eleitoral informou que neste domingo, em um país onde o voto é obrigatório, apenas 66% do eleitorado votou.

Tradicionalmente, as eleições legislativas argentinas são consideradas um plebiscito do eleitorado ao governo, que busca ampliar o número de cadeiras no Congresso.

Com a vitória, Milei põe fim ao que analistas consideravam o pior momento de seu governo desde que assumiu a Presidência, em dezembro de 2023.

Nos últimos meses, ele havia sofrido uma derrota na eleição legislativa da maior província do país, sinais de queda na popularidade, novas preocupações econômicas, problemas na relação com o Congresso e acusações de corrupção contra sua irmã, Karina Milei.

Em agosto foram revelados áudios de um suposto esquema de propinas envolvendo Karina, a secretária-geral da Presidência. Além dela, o esquema envolveria empresas da indústria farmacêutica e a Agência Nacional de Pessoas com Deficiência (Andis, na sigla em espanhol).

Em áudios vazados, o então diretor da Andis, Diego Spagnuolo, advogado de Milei, fala sobre percentuais de supostas propinas e cita os nomes de Karina Milei e de seu assessor direto, Eduardo "Lule" Menem, parente do ex-presidente Carlos Menem (1930-2021).

Uma pesquisa da Bloomberg/AtlasIntel, realizada entre os dias 10 e 14 de setembro, mostrou Milei com seu menor índice de popularidade desde que assumiu: 53,7% dos entrevistados afirmaram "desaprovar" o presidente argentino, enquanto 42,4% afirmaram que o "aprovam". O restante (3,8%) não sabe.

Javier Milei votando

CRÉDITO,GETTY

Maior presença no Congresso

Com os bons resultados nas urnas, o partido governista aumentará sua presença no Congresso, onde contou com os votos de seus aliados para aprovar seus projetos de lei nas duas primeiras eleições, embora o Senado permaneça sob controle da oposição.

Além disso, a eleição impacta severamente o governador da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof, que, após o sucesso de seu partido nas eleições regionais de 7 de setembro, se posicionou como o principal rival do presidente em sua provável tentativa de reeleição em 2027.

Internacionalmente, Milei também poderá demonstrar aos EUA que conta com o apoio majoritário do povo argentino para levar adiante as reformas econômicas pendentes.

Nas últimas semanas, Trump aprovou um pacote de ajuda financeira exclusivo dos EUA à Argentina para aliviar os crescentes problemas políticos e econômicos de Milei, com quem compartilha uma afinidade ideológica.

Ao receber Milei na Casa Branca, Trump deixou claro seu apoio ao grupo político do presidente argentino nas eleições legislativas de 26 de outubro.

"Vocês vão ganhar a eleição. Vamos apoiá-los hoje, apoiá-los totalmente", disse o americano.

O presidente americano sugeriu que a continuidade do apoio, porém, depende da vitória de Milei nas eleições presidenciais de 2027.

"Se ele perder, não vamos ser tão generosos com a Argentina", disse Trump, afirmando que Milei está enfrentando a "extrema esquerda".

Até o momento, essa assistência consistiu na abertura de uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões entre os dois países e na alocação de aproximadamente US$ 1 bilhão para a compra de pesos argentinos, a fim de evitar uma maior desvalorização da moeda.