Perita do caso Nardoni fez análise de laudo sobre morte de Sophia em Campo Grande

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A defesa que atua para o pai da pequena Sophia OCampo, morta aos 2 anos, em Campo Grande, em janeiro deste ano, teve o caso analisado pela perita Rosângela Monteiro, que atuou no caso Nardoni em 2008. A mãe e o padrasto são acusados de espancar e estuprar Sophia.

Jornal Midiamax conversou com a perita Rosângela que confirmou ter feito uma consultoria para a defesa do caso Sophia, onde analisou o material enviado pela advogada, Janice Andrade. Em seu parecer, Rosângela é bem clara ao afirmar que Sophia foi abusada inúmeras vezes. 

Confira o trecho do parecer feito pela perita em  e que o Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade:

 
 

“A violência sexual foi claramente identificada pelo rompimento de hímen, a heperemia em partes da vagina e esquimoses na face interna das coxas, e o rompimento do hímen já estava cicatrizado, portanto fora realizado em data anterior da morte da vítima”, diz parte da análise feita. 

Em outro trecho é relatado por Rosângela que: “Há muito tempo essa menina sofria abusos. A ausência de esperma não significa que o suspeito não tenha sido o autor. Ele pode perfeitamente ter usado preservativo, pode ter sido utilizado qualquer outro objeto por ele, pela mãe ou por outrem, já que o esperma de outro homem foi constatado em uma colcha encontrada no local”

Rosângela ainda é enfática ao dizer que o fato de ter dado ausência para esperma, não quer dizer que não houve manipulação do local. “Na sequência, realiza o exame de DNA tanto na amostra em que foi realizado o exame de esperma. O resultado foi ausência de esperma e presença somente de material biológico da vítima nas duas amostras, tanto na que foi realizado exame de esperma como na que não foi”, fala a análise.

 
 

“Veja, o exame de DNA é super sensível. O fato da pesquisa de esperma ter dado negativo, não quer dizer que não houve manipulação no local. Poderia conter a pele do agressor se ele manipulou o local”, fala a análise da perita. 

Segundo a advogada que está atuando para o pai de Sophia, a análise não foi anexada ao processo, já que ainda estão à espera da oitiva do perito que atendeu ao caso, e logo após isso será feito o pedido formal para Rosângela Monteiro fazer o parecer que será anexado ao processo. 

Casa periciada

Jornal Midiamax teve acesso ao laudo pericial que analisou a casa de Sophia. Logo na entrada da residência, em específico na varanda, foi observada a bagunça com lixos, objetos espalhados pelo chão e fraldas que estavam em sacos, além de embalagens vazias de latas de cerveja, demonstrando alto consumo de álcool. Na área de serviço, foi notado que recentemente roupas haviam sido lavadas e uma toalha branca chamou a atenção da perícia, já que estava separada das outras roupas estendidas no varal.

 
 

Já dentro da casa foi possível notar a desordem. Na sala havia um colchão no chão e sobre ele uma colcha, de cor rosa, onde os peritos encontraram três manchas: uma de cor marrom e outras duas, sendo uma delas de cor avermelhada, sugerindo ser sangue.

Na outra mancha encontrada foi usada luz azulada e com auxílio de óculos de coloração amarela pode-se perceber que se tratava de sêmen. Ainda na sala, foram encontrados vários medicamentos, que iam de tratamento para dores de cabeça, anti-inflamatórios, dores de garganta e prisão de ventre. 

Também na sala foram encontrados dois tubos de lubrificante feminino, sendo um deles aberto e quase no final. Um dos tubos estava em cima de um móvel ao lado do colchão que estava no chão da sala e outro em cima de um móvel onde ficava uma CPU, que foi apreendida para passar pela perícia. 

No quarto havia brinquedos espalhados, um ventilador quebrado e a cama também estava com o estrado quebrado. Uma toalha pendurada na porta do guarda-roupa foi periciada e encontrados vestígios de sêmen. Na cozinha havia louças na pia por lavar e outras limpas, e no banheiro tinha uma banheira, de cor rosa, com água limpa em seu interior. 

Segundo a conclusão da perícia, havia objetos e vestígios remetendo à prática sexual na sala e no quarto e um alinho que destoava da desordem na sala e no quarto, além de limpeza recente no banheiro, o que sugere possível tentativa de alteração da cena na residência. 

“Não é possível concluir nesse trabalho a existência de vestígios inequívocos de morte violenta em tal residência, não se descartando o prejuízo ante a falta de preservação do local durante o período entre a prisão dos supostos autores e a chegada da equipe pericial na residência”, disse a perita em laudo.

‘Minha culpa’

O Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade ao vídeo da audiência que aconteceu a portas fechadas no Fórum de Campo Grande. No depoimento, que durou cerca de 36 minutos e foi conduzido pelo juiz Carlos Alberto Garcete, a testemunha revela o que aconteceu momentos depois que o padrasto soube da morte de Sophia. Ele foi avisado pela mãe da menina por meio de mensagens de texto.

A testemunha revelou que, no dia em que Sophia morreu, foi até a residência do casal por volta das 15 horas e ficou na varanda junto do padrasto da menina, mas afirmou que não viu a mulher com a menina sair para o posto de saúde. A mãe deixou a casa às 16h46 em carro de motorista de aplicativo. 

Quando a mãe de Sophia mandou uma mensagem para o marido dizendo que a criança havia morrido, o padrasto ficou perturbado e disse a frase: “culpa minha”, conforme o depoimento da testemunha. Em seguida, os dois foram dar uma volta no bairro e fumar um cigarro. O padrasto, então, começou a chorar e segundo a testemunha "não parecia fingimento".

Ainda segundo a testemunha, logo após o ‘passeio’ no bairro para fumar, os dois voltaram para a residência, e momentos depois a polícia chegou ao local dizendo que ele iria ser levado para a delegacia. Neste momento, o padrasto não teria esboçado nenhuma reação de surpresa e foi com os policiais de forma tranquila. A testemunha relatou que foi para casa após a saída do amigo com os policiais.

Ainda segundo a testemunha, no dia anterior à morte de Sophia, ele foi até a casa para uma festa regada a cocaína e disse que era nítido o estado debilitado da menina. “Ela estava bem fraquinha”, contou. De acordo com a testemunha, as festas na residência ocorriam pelo menos três vezes na semana e em uma delas já teria chegado a beijar o padrasto de Sophia na boca.