Da periferia de Dourados, PM participa de batalha de rap com jovens em praça

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Recentemente, um vídeo improvável circulou pelas redes sociais, nele, o sargento Jeder Fabiano da Silva Bruno, 45, popularmente conhecido como ‘Brunão', está uniformizado enquanto participa de uma roda de rap com cerca de quarenta jovens, na Praça do Cinquentenário, em Dourados - assista abaixo.

A cena que chamou a atenção dos internautas ocorreu quando Bruno estava patrulhando a região e observou a aglomeração. Antes de iniciar os procedimentos operacionais para verificar se estaria ocorrendo algo de errado no local, ouviu o som e identificou que seria uma batalha de rap.

Ao se aproximar do grupo de jovens, o sargento diz que notou as fisionomias apreensivas, mas para a surpresa deles, pediu o microfone e disse “só vou mandar a minha rima e vou embora”. No vídeo é possível ver vários jovens em êxtase com a atitude do policial.

“No primeiro momento, os meninos imaginaram que eu pediria o microfone para parar o evento deles, não, eu disse que queria mandar uma rima curta e já iria embora, foi o que fiz, coração latente, apertou, viajei na máquina do tempo e me vi nos inícios dos anos 1990”, comentou Bruno.

O rap, que aborda como a sociedade está perdendo a essência por necessidades de autoafirmação e preconceito, foi escrito em meados de 95 e, antes da apresentação na Praça do Cinquentenário, cantado uma única vez em público, na Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé, em 1997.

Sobre querer participar da batalha de rap, ele disse que iniciou pela emoção de recordar os momentos vivenciados na adolescência. “É coisa que fica marcada, como o primeiro namoro, a primeira música, o primeiro beat box, é cultura, eu me vi inserido nela, nostálgico”, afirmou.

Criado na região da Vila Erondina, do Jardim Cuiabazinho e, sempre transitando pela região do Grande Água Boa, entre a W4 a 13, Bruno conta que cresceu inserido em um ambiente em que, grande parte, não gostava de polícia, por isso, faz questão de desmistificar a profissão para os jovens que encontra.

Inclusive, o sargento conta que ao fim da apresentação de rap com o grupo de jovens, um menino o abordou na porta da viatura, claramente emocionado, e disse, “tio quero ser um PM igual o senhor, gente fina, o senhor é massa!”. 

“Aquilo ali foi o ápice, pouquíssimas vezes na minha vida vi o sentido de ser o que sou, como sou, porque sou, enfim, consegui algo raro no meio, levar uma visão humana para a meninada que ainda tem receio da gente. Se me perguntarem se fui feliz naquele momento? Posso responder que fui exageradamente feliz”, afirmou o sargento.

Por morar em bairros mais humildes, o militar relembra que passou a infância escutando rap, “tínhamos o acesso à cultura de periferia, o rap, o dance”. Além disso, ele relata que essa origem teve papel importante na sua formação.

“Me ensinou a saber onde me cabe e onde não devo entrar, vivi vida pobre, então sei o quão é valoroso um bife no prato, a vida que vivi me certificou que as dificuldades da vida só venço se eu lutar, parado sou só um poste no sistema”, explica Bruno.

Mesmo não considerando voltar a compor ou cantar profissionalmente, Bruno considera que “o rap, bem escrito, bem apresentado tem vida, tem história, tem essência, não crítico o rap de protesto, lógico, cada qual no seu quadrado, o protesto é válido, o esculacho não”.