Ex-prefeito Guilherme Monteiro rebate acusação de não deixar recursos nos cofres de Jardim

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Em entrevista o ex-prefeito de Jardim, Guilherme Monteiro (PSDB), que, na disputa contra Clediane Matzenbacher (DEM), perdeu por 20 votos. Monteiro concedeu sua primeira entrevista após o pleito em seu escritório na avenida Duque de Caxias e rebateu a prefeita sobre não ter deixado dinheiro em caixa para arcar com as despesas do município.

Nome: Guilherme Monteiro

Idade: 43 anos

Partido: PSDB (desde 2006)

Profissão: Zootecnista e produtor rural

Cargos públicos: Vereador (2013 a 2016) e prefeito de Jardim (2017 a 2020)

Jardim Diário – Como você resume seus quatro anos de trabalho como prefeito de Jardim?

Guilherme Monteiro – Foi um desafio. Se você me pedisse para descrever em uma palavra, seria desafiador. Nós assumimos uma prefeitura com... e não é porque peguei de um adversário meu, mas os entes públicos, seja município, Estado e União, a forma como as regras são postas acaba inviabilizando muitos deles, financeiramente, contabilmente. Jardim, por não ser uma cidade industrial, uma cidade do setor agrícola pujante, depende muito do comércio e da pecuária, nos limita muito os recursos. Assumimos a prefeitura em 2017 com muitos desafios contábeis e financeiros. Tentamos organizar o máximo possível as finanças da prefeitura, e conseguimos. Pagamos o 13º atrasado, pagamos folha de dezembro, que também não tinha dinheiro em caixa, fomos pagando rescisões de servidores da gestão anterior, fomos organizando financeiramente. A partir de 2018 começamos a ter as realizações, foram conquistas nossas de projetos cadastrados em 2017 que começaram a se realizar em 2018. Pavimentação da Vila Brasil, da Vila Teixeira, prolongamento da rua Minas Gerais e da rua Maranhão, entramos com projetos para fazer o saneamento básico. As coisas já foram encaminhando, da metade para o final conseguimos recursos próprios para fazer a pavimentação da Sete de Setembro e da Vila Angélica 2. O governador Reinaldo Azambuja estendeu mais a mão. Na Vila Brasil e na Vila Teixeira não são recursos próprios do município, foi uma articulação que conseguimos com o governador e a bancada federal. O que, de fato, tem de recurso próprio, de pavimentação, é a Sete de Setembro e o término da Vila Angélica 1. E o governador Reinaldo Azambuja, atento ao nosso trabalho, vendo que as coisas estavam indo bem, perguntou o que eu gostaria mais de fazer em Jardim. “Olha, governador, tenho o sonho de realizar a pavimentação da Vila Angélica 2â€. Foi o trabalho de um ano de projeto, corrige aqui, acerta ali, faz licitação, homologa licitação, isso tudo pelo governo do Estado. Conseguimos liberar R$ 9,5 milhões, serão 50 quarteirões. Isso foram as coisas macro, fora a reforma de escola, como a Estácio Cunha Martins, no Boqueirão, Zeus Benevides, na Avenida Brasil, a Escola Marc, que está em 60%. Investimos muito na área de infraestrutura, asfalto, saneamento básico, educação, ampliação e reforma de escolas, ampliação do Hospital Marechal Rondon, para dar uma infraestrutura mínima para as pessoas de Jardim. No município, parece que foi diminuindo o desenvolvimento, as coisas não estavam acontecendo com os mesmos passos que ocorria em outros municípios. Para que a população de Jardim aumente, pessoas novas precisam vir para cá, mas só virão se morarem em uma rua que esteja asfaltada. Querem colocar o filho em uma escola boa, se tem um hospital para atender e, nessa época de pandemia, saber se tem um leito de UTI. Jardim não estava oferecendo isso mais. Um dos pilares da nossa administração foi a infraestrutura. Tivemos que tomar umas decisões duras, como o fechamento da Escola Chaquib [Kadri, no bairro Ceaq] e do ESF [Estratégia de Saúde da Família] 8. A Escola Chaquib era para atender 600 alunos, estava com 240, ou seja, dinheiro público sendo mal utilizado. O ESF 8 era para atender 800 famílias, estava atendendo 250 famílias. Isso é culpa do prefeito Guilherme? Isso é culpa dos gestores anteriores que não se preocuparam com isso. Tivemos que fazer essas readequações de transferir alunos para outras escolas. Famílias da 1ª e 2ª Curva para o ESF 4, na Cohab Aeroporto, para ter dinheiro para ampliar a Escola Zeus Benevides, Marc, Estácio Cunha Martins, para comprar ambulâncias. Foram desafiadoras essas tomadas de decisões, e não me arrependo nenhuma vírgula delas. Você vai ver ao longo do tempo o quanto será bom para o nosso município.

“Tivemos que tomar umas decisões duras, como o fechamento da Escola Chaquib e do ESF 8. A Escola Chaquib era para atender 600 alunos, estava com 240, ou seja, dinheiro público sendo mal utilizado. O ESF 8 era para atender 800 famílias, estava atendendo 250 famíliasâ€

Jardim Diário – Só de recursos próprios, Jardim não se sustenta? Jardim não é autossustentável?

Guilherme Monteiro – Não, Jardim não é autossustentável, nunca foi, são poucas as cidades no país que são autossustentáveis. Mas não é por causa de Jardim, são leis que atrapalham essa sustentabilidade de um município do tamanho de Jardim.

Jardim Diário – Por exemplo?

Guilherme Monteiro – Quando você paga seu Imposto de Renda, 65% fica em Brasília. O restante vem para o Estado e uma parcela para o município. ICMS da mesma forma. E onde você mora? Na cidade. Onde seu filho estuda? Na cidade. Onde é o posto de saúde? Na cidade. Não é no Parque dos Poderes, em Campo Grande, tão menos na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O Brasil são vários Brasis.

Jardim Diário – Como prefeito, o senhor não pode aumentar esse poder aquisitivo de Jardim? As pessoas elegem com a intenção de poder auxiliar, ajudar a melhorar...

Guilherme Monteiro – Eu não tenho a caneta para aumentar ou diminuir os impostos federais e estaduais, mas para regulamentar os impostos municipais. Só para você ter uma ideia: se todos os imóveis do município fossem regulares com seus impostos, principalmente o IPTU, nós arrecadaríamos R$ 6 milhões anualmente. Só a despesa de um mês de folha de pagamento do município, quase R$ 3 milhões bruta. Então, daria para custear a folha dois meses. Tem a taxa de alvará de funcionamento, mas isso não custeia a máquina, quiçá fazer investimentos. Por isso é importante, e a gente tem que fazer essa pauta da municipalização e mudar o pacto federativo, para mudar essas questões de impostos. O Imposto de Renda não é para se pagar para a Receita Federal, mas para a receita municipal. A grande demanda do munícipe, é na cidade. Tem que inverter esse processo, precisamos custear as Forças Armadas e as universidades, mas temos que inverter esse processo, ficar a maior parte no município, o que eu como prefeito, na Assomasul [Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul], levantávamos a bandeira para pressionar os nossos deputados federais e senadores para que colocasse na agenda da mudança da federalização de impostos no Congresso Nacional, mas isso não se discute do dia para a noite. Quem sabe mais alguns prefeitos mudem isso, mas somente com a arrecadação do município não se toca a máquina, tão menos fazer investimentos.

“Somente com a arrecadação do município não se toca a máquina, tão menos fazer investimentosâ€

Jardim Diário – O senhor disse que pegou a prefeitura com um déficit contábil e financeiro. Quanto o senhor recebeu de déficit e quanto em caixa deixou para a atual prefeita?

Guilherme Monteiro – O que nós pegamos está tudo no balanço de 2017, que entregamos para o Tribunal de Contas. O que nós pagamos de dívidas da gestão anterior foi R$ 6,5 milhões. Paguei a folha de dezembro, paguei o 13º, que parcelei para pagar, tivemos que recolher algumas GFIP [guia de recolhimento do FGTS] de INSS, da Saúde, enfim, foram R$ 6,5 milhões. Sem contar as dívidas que existem do Instituto de Previdência, que isso é outra coisa que tem que ser discutida. Da forma que ela está colocada, as regras do Instituto de Previdência, ninguém consegue pagar. É o INSS, o INSS é quebrado, as pessoas só não deixam de receber a aposentadoria porque o governo vai, pega de uma conta e supre o INSS, da forma como é feito é impagável. E o IPJ [Instituto de Previdência Social dos Servidores Municipais de Jardim] também, ele é impagável, tem que mudar isso aí. Nós também deixamos de pagar o IPJ, porém, nós parcelamos. O que aconteceu? Eu sei que devo, como é que nós podemos pagar? Isso eu pontuei durante os quatro anos do meu mandato: eu sei que eu devo, como posso pagar? Eu parcelei, o governo federal reabriu o parcelamento em 200 vezes. Mas o município de Jardim não consegue pagar o mensal. Nós precisamos recolher R$ 500 mil por mês com o IPJ, e a folha do IPJ já está em R$ 1 milhão. Nós não conseguimos recolher R$ 500 mil, mesmo se conseguíssemos, ficaria no déficit de R$ 1 milhão. A conta é... tem que sentar, estudiosos, não é prefeito, não são os vereadores, tem que sentar gente que entende de previdência para poder fazer um cálculo. O que eu, como prefeito, passei para a atual gestão? Passamos, na publicação que fiz ontem [31 de janeiro, via Facebook], R$ 6,3 milhões. Recursos do fundo da saúde, do fundo da educação, recursos próprios. Qual a dívida que nós deixamos, tirando a dívida do IPJ que é reparcelada? Deixamos a luz de dezembro, a água de dezembro, o combustível que, na transição... por exemplo: do dia 16 ao dia 31 de dezembro, tivemos que suspender pagamentos para poder fechar a contabilidade da nossa gestão. Não pagava mais nada, mas o dinheiro estava entrando. E os recursos que recebe em janeiro é referente ao período comercial de dezembro. Toda a movimentação de impostos, ICMS, IPVA, Fundersul, Imposto de Renda, que se recebe em janeiro, é referente à movimentação comercial de dezembro. Nós tivemos que parar porque não temos equipe para ficar fechando contabilidade, fechando financeiro, e deixamos dinheiro em caixa, R$ 6,3 milhões. Deixamos dinheiro para a contrapartida, o ESF 6 na Vila Angélica. Ela [prefeita Clediane Matzenbacher] fala que não pagamos a empresa que abastece os carros, deixamos o dinheiro, não pagamos, isso foi comunicado a empresa. O Hospital também foi comunicado a empresa, que ia ficar para janeiro. Porque são contas correntes, tivemos que parar o mês de dezembro para fazermos o fechamento contábil do nosso mandato. Isso o Tribunal de Contas exige, porque senão eu fico improbo. O que faltou foram essas contas do mês de dezembro, que credita no dia 5 de janeiro. Faltou, talvez, da atual administração maturidade, falta de conhecimento, em explicar a informação correta, que, ao longo do mandato, ela vai construindo essa maturidade. Os vereadores que votaram para ela movimentar a parte contábil em mais 10%, já tinha 50% de autorização. Até 50% você não precisa pedir autorização para a Câmara, você pode mudar de uma pasta para a outra, dentro da legalidade, nada obscuro, pois tudo isso tem documento. Essa movimentação ela tinha até 50% para fazer, como eu sempre tive. Ela pediu mais 10%, não há necessidade porque a despesa é corriqueira. Pode até fazer, mas não há necessidade. Mas ela está no poder dela, os vereadores também, foi autorizado, normal.

“O que eu, como prefeito, passei para a atual gestão? Passamos R$ 6,3 milhões. Recursos do fundo da saúde, do fundo da educação, recursos próprios. Qual a dívida que nós deixamos, tirando a dívida do IPJ que é reparcelada? Deixamos a luz de dezembro, a água de dezembro, o combustível. Do dia 16 ao dia 31 de dezembro, tivemos que suspender pagamentos para poder fechar a contabilidade da nossa gestão. Não pagava mais nada, mas o dinheiro estava entrandoâ€

Jardim Diário – Só voltando um pouco a pergunta, a prefeitura não está quebrada, não está em déficit, ela tem recursos para fazer esses pagamentos...

Guilherme Monteiro – Sim...

Jardim Diário - Mas não fez porque era fechamento contábil e os fornecedores foram comunicados disso...

Guilherme Monteiro – Foram...

Jardim Diário – Espera-se, então, assumir para pagar...

Guilherme Monteiro – Isso. Porque se cancela o empenho, mas o dinheiro está na conta. Eu faço uma programação, por exemplo, que vou te dar essa calculadora. Eu empenhei, eu pendurei essa calculadora na conta da prefeitura, mas você não vai pegar essa calculadora de volta. Contabilmente eu preciso cancelar esse empenho, justificar ele, mas eu tenho que ter o dinheiro em conta. Se eu não tiver o dinheiro em conta, aí é cheque sem fundo. Tem despesas de dezembro que não foram empenhadas, conta de luz, conta de água, combustível do dia 30, 31, uma diária do motorista, não tinha como empenhar, mas o dinheiro estava ali. Como não foi empenhado, não precisava nem deixar o dinheiro, mas vinha a arrecadação de dezembro, para ser depositado em janeiro para pagar na arrecadação de dezembro. Tudo isso é uma contabilidade, o dinheiro ficou. Os empenhos foram cancelados, mas o dinheiro estava na conta.

Jardim Diário – Da forma que estava, daria para fazer a gestão de Jardim sem os 10% a mais solicitados?

Guilherme Monteiro – A atual gestão não quer comprometer o orçamento desse ano porque são despesas do ano passado. Eu não fiz isso, eu assimilei porque, afinal de contas, o dinheiro não é meu, estou como prefeito, o dinheiro é da prefeitura, do povo. É uma despesa corriqueira. A assessoria contábil me orientou. Você vai diluindo, não precisa pagar tudo de uma vez. Tem fornecedor que eu paguei até no último ano do meu mandato, paguei fornecedor da gestão passada. Eu fui pagando quando tinha dinheiro. E nem por isso eu deixei de investir na cidade. Espero que, com esses 10% a mais que ela tenha, essa possiblidade de poder mudar a movimentação financeira, ela possa investir, às vezes, até mais do que nós fizemos. E a gente torce para que isso aconteça, porque condições ela está tendo. Eu não peguei com R$ 6,3 milhões no caixa, eu peguei com o 13º atrasado e com a folha de dezembro atrasado.

Jardim Diário – O que mais se orgulha da sua gestão?

Guilherme Monteiro – Me orgulho das pessoas, dos funcionários públicos que encamparam a nossa administração, e que viram na gente um pouco do retrato do meu pai, que, modéstia à parte, foi um excelente prefeito aqui. Viam em mim um pouco dele e sabiam que, comigo, com ele, como deputado federal, secretário de Finanças do Estado, e o governador Reinaldo Azambuja na retaguarda nossa, acreditavam que a gente ia fazer um trabalho legal, e fizemos. Você encontrava um gari 5h varrendo, ele te abraça, te cumprimentava com um brilho no olhar. Você via um catador de lixo, passava em frente da minha casa, o caminhão é novo, os uniformes novos. O que marcou sua administração? As pavimentações asfálticas que fizemos. As reformas de duas escolas e meia, porque deixei o Marc para terminar...

Jardim Diário – Tem recursos para o Marc?

Guilherme Monteiro – Tem. Os recursos do Marc são o seguinte: R$ 90 mil por mês, entre R$ 90 mil e R$ 100 mil por mês que é medição do Marc. Dinheiro da prefeitura, recursos próprios. Não podia fazer mais porque não tinha dinheiro, mas assim eu fiz as outras escolas. O empreiteiro que ganhou a licitação perguntou: prefeito, como o senhor quer que toca a obra? Em seis meses, um ano? Temos R$ 1,3 milhão, R$ 90 mil por mês. A obra com um ano e pouco...

Jardim Diário – Qual a previsão de entrega?

Guilherme Monteiro – A minha previsão de entrega era o aniversário da cidade de 2021, 14 de maio. Não sei como está a previsão, mas até então era. O que marcou nossa gestão: as pavimentações na Vila Brasil, as reformas de escola, temos três caminhões compactadores de lixo, isso facilita muito a coleta de lixo, coloquei para funcionar o aterro sanitário, e isso foi um marco, uma coisa diferente para Jardim. Porque existem recursos que vem para o município com algumas condições. Primeira condição, plano diretor, e nós temos. Outro patamar foi quando implantamos o plano de manejo dos resíduos sólidos. Está 100%? Não. Iniciamos colocando para funcionar o aterro sanitário. Mais de dez anos essa obra parada. Jardim vai subir outro patamar quando tivermos mais de 80% de saneamento básico.

Jardim Diário – Está em quanto o saneamento básico?

Guilherme Monteiro – Deve estar em torno de 60%, 65%. O projeto é 85%. Se sobrar recurso, conseguiríamos até 90%.

Jardim Diário – O que o senhor não fez que deveria ter feito em quatro anos?

Guilherme Monteiro – O projeto da Vila Angélica 2 eu deveria ter adiantado. Ao invés de ter entregado no ano de 2019, eu deveria ter entregue em 2018. Eu sabia que seria um investimento grande... o governador Reinaldo Azambuja disse: faz o mais rápido possível. Mas o projeto custava R$ 800 mil, nós não tínhamos o dinheiro, pela falta de experiência também... Em 2018, eu juntei o dinheiro para fazer o projeto em 2019. Isso eu faria diferente, anteciparia o projeto da Vila Angélica 2. Uma chateação minha, de prefeito, é não conseguir entregar um projeto tão grande. Vai ser o maior investimento que Jardim já teve em um único momento, R$ 9,5 milhões. Jardim nunca teve de uma vez só, em uma frente de trabalho, uma obra tão grande como essa. Meu pai fez a Vila Angélica 1, só que em etapas. A Vila Brasil também foi em etapas. Minha chateação maior é de não poder entregar uma obra dessas. Iniciei, corri atrás, investi, mas, tudo bem, a gente tem que entender. Política, eleição, ser prefeito, é que nem um pai com um filho: você ensina um filho, investe, dá educação, mas o filho tira sete na prova. Você não esperou o filho ter maturidade, você se adiantou e, às vezes, tem essa frustração. O que acontece com a população de Jardim: tem que amadurecer um pouco mais, olhar para trás e ver o quanto foram boas as coisas que o Guilherme fez. Eu vejo o saudoso prefeito Evandro [Bazzo, falecido em setembro de 2010], as pessoas valorizam tanto as coisas que fez, meu pai enquanto prefeito também. Eu tenho para mostrar... a real, a verdade, de uma derrota por 20 votos. “Olha, deveríamos ter votado no Guilherme, porque foi um bom prefeitoâ€. Deveriam ter mais maturidade as pessoas.

“Isso eu faria diferente, anteciparia o projeto da Vila Angélica 2. Uma chateação minha, de prefeito, é não conseguir entregar um projeto tão grandeâ€

Jardim Diário – Por que o senhor perdeu por 20 votos? Teve algum momento que o senhor achou que iria se reeleger?

Guilherme Monteiro – Sim. Fazíamos levantamentos toda a semana. Via que a adversária estava encostando. Chegou na sexta-feira, nós tínhamos dez pontos de diferença, dava uma margem de 800 a 1.000 votos, mas virou em dois, três dias. Você faz uma pesquisa na cidade, mas não na fazenda, em assentamento, com a pessoa que vem de Campo Grande, Dourados. Mas o que faltou em mim? As pessoas falam: o Guilherme fez uma baita de uma administração, o Guilherme foi um bom gestor, nunca deixou faltar as coisas... mas eu não sou um cara de ir na festinha de aniversário, de levar o bolo, o refrigerante, de ir lá na 1ª Curva, sentar e conversar. Eu sou um cara mais retraído. Não que eu não goste das pessoas, eu gosto das pessoas. Tanto que fui vereador, virei prefeito, porque as pessoas me conhecem, mas eu não sou um cara tão social como eu deveria ser. Por exemplo: eu ia na festa de Santo Antônio, ia eu, a Roberta e minhas crianças. A gente sentava em uma mesa. Eu não chegava com aquele mundaréu de gente, não sou um cara de sair cumprimentando mesa por mesa. Eu cumprimento as pessoas que eu conheço, e, às vezes, as pessoas que a gente não cumprimenta falavam: “olha lá, é metidoâ€. As pessoas conhecem a gente, mas, às vezes, a gente não conhece as pessoas. Faltou, talvez, falsidade? Não ia acontecer comigo. Ser o que não sou? Não ia acontecer comigo.

Jardim Diário – Acha que ia deixar de ser você?

Guilherme Monteiro – Eu, no meu caso, talvez ia deixar de ser o que eu sou. No meu final de semana, ia com a Roberta para a fazenda, ou ficava em casa, ou ia na casa do meu compadre. Ia nas pessoas que sempre estiveram comigo. Eu não montei nenhum projeto para as pessoas falarem que estou fazendo assistência social. E não fico tirando foto. Quantas pessoas atendi no gabinete? Muitas pessoas. E não tirei foto. Lógico, quando você entrega um asfalto, entrega uma casa, um hospital, você faz essa publicidade porque é institucional. Mas o atendimento, ver se a pessoa precisa de uma cesta básica, eu não saia tirando foto. Essa questão social nunca foi meu métier, talvez, por isso, eu tenha perdido.