"Estão me tratando igual bandidaâ€, diz mulher com tornozeleira durante pandemia

 / Marta Ferreira

“Um exageroâ€. Assim a vendedora de roupas Patrícia Marques Neto, 42 anos, moradora de Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande, define a medida extrema tomada pela Justiça para obrigá-la a ficar em casa, por ter testado positivo para a covid-19. “Estão me tratando igual bandidaâ€, resumiu, sobre o fato de estar usando tornozeleira eletrônica desde hoje cedo.


A prisão domiciliar foi decretada ontem pelo juiz Marcelo Guimarães Marques, da 2ª Vara Criminal da cidade, após o secretário de Saúde da cidade, Patrick Derzi, registrar boletim de ocorrência contra a moradora no sábado (16), por descumprir medidas sanitárias. A informação relatada foi de que, apesar de ter sido orientada a não sair de casa, para evitar o contágio de outras pessoas, a moradora chegou a percorrer a cidade de táxi, para ir a um laboratório fazer novo teste para o vírus, no sábado. Ela não acreditou no exame rápido feito em posto de saúde local.

Na conversa por telefone com o Campo Grande News, Patrícia disse ter buscado o segundo exame porque tinha mesmo dúvidas sobre o diagnóstico na rede pública, feito dia 12, na terça-feira passada.

“Eu queria repetir o exame com eles e eles não deixaramâ€, justificou. O novo teste, que confirmou o contágio, custou R$ 200, revela Patrícia.

No registro policial, existe a informação de que o secretário de saúde chegou a ir à casa da vendedora, recomendar a quarentena, mas ainda assim ela passeou pelo comércio e dormiu fora de casa no sábado à noite. A Guarda Civil da cidade deu “plantão†na casa dela esperando pela chegada, dado o risco de transmitir a doença a outras pessoas.

Patrícia alega que só saiu na noite de sábado porque um de seus filhos tem “problemas mentais e o outro tem medo dele quando surta e quebra as coisasâ€. De acordo com ela, precisou dormir fora para evitar uma situação de violência doméstica. “Mas tomei todo o cuidado, estava de máscara e


A mulher garante “nunca†ter passado por uma delegacia e agora está se adaptando ao equipamento destinado normalmente a quem comete crimes.
Para ela, a situação é injusta. “Não tem necessidade de colocar tornozeleira, não tem necessidade de chamar a mídia, fazer esse barulhoâ€, reclama.

“Atração†– Patrícia já estava sem poder vender seus produtos antes do contágio pela covid-19, devido à paradeira na economia. Agora, conta, só está dentro de casa. Queixa-se que o lugar virou atração.

“As pessoas param aqui na frente para tirar fotoâ€, diz.

Ela fez até desabafo na rede social pedindo às pessoas um pouco de paz nesse período.

Pela determinação judicial, a mulher vai cumprir a quarentena, até a próxima segunda-feira pelo menos, com a tornozeleira.

Em foto enviada à reportagem, o equipamento está na perna dela, ligado ao carregador. Perguntada se a tornozeleira eletrônica atrapalha muito a rotina, Patrícia resume: “Incomoda né, é pesadaâ€.

Sobre a lição em relação à prevenção contra com o coronavírus, ela diz que concorda com a necessidade com medidas de proteção, porém enxerga excessos.  “Tem que ser o cuidado, mas têm muitas coisas que são exageroâ€.

Exemplificou que não podia “sair no portão de casaâ€, que uma das vizinhas corre para dentro.

Reclama, ainda, de ter sido filmada e fotografada. Diz que vai guardar tudo isso para uma eventual ação judicial por exposição da imagem.Â