Depoimento confirma sumiço de dólares na vara comandada por Odilon

 / Anahi Zurutuza

Em depoimento colhido pela Justiça Federal e que vazou nesta última semana, o agente de segurança Jânio Alves de Souza, testemunha em ação penal que tramita na 5ª Vara Federal contra Jedeão de Oliveira, ex-diretor de secretaria da 3ª Vara Federal de Campo Grande, detalha sumiço de 250 mil dólares acautelados e revela a falta de controle sobre bens e dinheiro apreendidos. A vara foi comandada até um ano atrás pelo juiz Odilon de Oliveira, que aposentou-se em outubro de 2017 para disputar o governo de Mato Grosso do Sul.

O processo tramita em segredo de Justiça, mas o vídeo contendo trechos do depoimento de Jânio Alves de Souza, que atuava como agente de segurança na 3ª Vara, está circulando pelo WhatsApp.

 
 

O servidor conta que a mando de Odilon de Oliveira foi algumas vezes ao interior para buscar valores apreendidos de organizações criminosas, apreendidos por ordem judicial. “Eu fiz algumas viagens para o interior do Estado, Ponta Porã, Dourados, Três Lagoas e até Corumbá. Por ordem do Dr. Odilon, com ofício em mãos, fui buscar valores na Caixa Econômica e salvo engano, em Corumbá, eu busquei na Receita Federalâ€.

No mesmo depoimento, o funcionário diz que entregava o dinheiro nas mãos de Jedeão, mas que não registrava o recebimento. “Eu buscava o dinheiro, entregava em mãos para o Jedeão, mas eu não tinha essa cautela de fazer certidão. Mas assim, a gente cumpria a missão e entregava na mão deleâ€.

Cofres – O agente de segurança conta também sobre como era o armazenamento dos bens oriundos de apreensões, mais uma evidência da “bagunçaâ€. “A gente tinha uma sala-cofre e um cofre pequeno†(...) “À sala-cofre, a Claudia e o Jedeão. O cofre pequeno só o Jedeão tinha acessoâ€, conta.

Neste ponto, o servidor diverge do depoimento do próprio juiz Odilon à Justiça Federal. O magistrado, quando ouvido na ação contra o ex-diretor da 3ª Vara, disse que só ele e outra servidora tinham a senha do cofre que ele chama de pessoal, contradizendo a versão do funcionário.

 

Juiz Odilon de Oliveira quando prestou depoimento em processo contra funcionário da 3ª Vara (Foto: Reprodução)Juiz Odilon de Oliveira quando prestou depoimento em processo contra funcionário da 3ª Vara (Foto: Reprodução)

Sumiço de dólares – O agente de segurança também conta o que diz saber sobre o desaparecimento de 250 mil dólares que estavam sob a guarda da vara de Odilon, mas dá uma explicação confusa.

“A Caixa Econômica informou que seriam removidos todos os valores enumerados, todas as coisas acauteladas pra agência centroâ€, detalha, completando que não saber afirma se o magistrado ou o diretor pediram para que o pacote com os dólares permanecessem na vara.

“Só que a Caixa não leva dinheiro na vara, alguém foi buscar esse dinheiro na agência da Justiça Federal e este foi um dos valores que sumiramâ€, completa.

Veja:

Ação penal – Jedeão de Oliveira é acusado de ter desviado dólares apreendidos por ordem do juiz federal, agora aposentado.

A ação cobra R$ 10,6 milhões de Jedeão, que foi por 21 anos funcionário de confiança de Odilon. Ele responde a 26 acusações de peculato e admite ter cometido um crime, "fraudado um documento", nas palavras do advogado dele José Roberto Rodrigues Rosa.

 

A defesa do ex-servidor, que foi oficialmente demitido em 18 de junho de 2016, apresentou as alegações finais no dia 8 de agosto. Tanto Jânio quanto Odilon foram ouvidos em 2016.

Odilon – Jedeão de Oliveira tentou negociar acordo de delação premiada, mas a proposta foi rejeitada pelo MPF (Ministério Público Federal). O depoimento dele, contudo, resultou na abertura de investigação contra Odilon de Oliveira. A apuração também tramita em sigilo.

A reportagem tentou contato com o candidato do PDT por telefone, mas ele não atendeu às ligações. A assessoria de imprensa também foi acionada, mas até o fechamento da matéria não havia se manifestado.Â