PIB per capita do Brasil deve voltar a cair neste ano e só recupera nível pré-crises em 2029, aponta FGV

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Mesmo com o crescimento da economia brasileira em 2021 e a superação de boa parte das perdas de 2020, ainda deve levar mais 7 anos para a população brasileira recuperar a renda e o nível de riqueza que tinha em 2013 – último ano antes das últimas crises, quando foi registrada a melhor marca histórica do Produto Interno Bruto (PIB) per capita no país.

A previsão é de levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) antecipado ao g1.

O resultado oficial do PIB e do PIB per capita de 2021 será divulgado nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os analistas estimam que a economia brasileira cresceu ao redor de 4,5%, após o tombo de 3,9% em 2020, enquanto que o PIB per capita cresceu um pouco menos.

O PIB per capita é o resultado da relação entre a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e o número de habitantes. Como o Brasil continua registrando crescimento populacional, quando há uma retração na economia, o nível de riqueza e renda da população costuma encolher de forma mais acentuada que o PIB.

Em outras palavras, o bolo ficou menor e passou a ter que ser dividido com mais pessoas, deixando o brasileiro mais pobre.O PIB per capital funciona como um termômetro para avaliar o bem estar e nível de renda de uma nação, apesar de suas limitações, devido às desigualdades do país e pelo fato das riquezas não serem distribuídas da mesma forma para toda a população.

Pelos cálculos do Ibre, o país precisaria crescer a um ritmo de pelo 3% ao ano daqui pra frente para retomar até 2026, ainda durante o próximo mandato presidencial, o patamar de riqueza e renda que vigorava antes do abalo da recessão de 2014-2016. Cenário considerado atualmente "quase impossível".

O cenário base estima que só em 2029 o PIB per capita irá recuperar o nível de 2013, mas, para isso, o país precisa manter uma taxa de crescimento média anual da economia de 2,4%.A pesquisadora estima que o PIB per capita terminou 2021 ainda 1% menor que o registrado antes da pandemia (2019) e 7,7% abaixo da máxima histórica de 2013.

Os economistas do mercado financeiro projetam atualmente um avanço de apenas 0,30% do PIB em 2022 e de 1,50% em 2023, bem abaixo da média global.

Risco de nova queda em 2022
Com a economia ainda patinando, aumento da incerteza global com a guerra na Ucrânia e juros em trajetória de alta para conter a inflação impondo freios para uma retomada mais firme, há o risco do PIB per capita voltar a registrar queda em 2022, mesmo com crescimento da economia no ano.

O cenário esperado pelo Ibre para o PIB em 2022 é um pouco mais otimista que o da média do mercado, de crescimento de 0,60%, mas ainda assim insuficiente para evitar uma queda do PIB per capita no ano, estimada em -0,1%.Na visão da economista, o que deve dar algum suporte à atividade econômica no ano deverá ser a continuidade do processo de normalização do setor de serviços, sobretudo nos segmentos de caráter mais presencial e de serviços públicos, em meio ao avanço da vacinação e flexibilização das medidas de restrição para conter a propagação do coronavírus.Mesmo com a queda do desemprego nos últimos meses, a recuperação do mercado de trabalho tem sido liderada pelo aumento da informalidade e por ocupações precárias ou por conta própria – os chamados bicos, de remuneração menor e muito variável.

"Não só estamos mais pobres em termos agregados, como observamos uma economia ainda sofrendo cicatrizes da crise da pandemia, pois o choque infelizmente é muito heterogêneo entre setores e trabalhadores. Portanto, é um cenário ainda muito desafiador voltarmos a um padrão de crescimento de renda e de consumo do pré-pandemia", destaca a coordenadora do Ibre.

Histórico de baixo crescimento
O maior desafio do Brasil é conseguir retomar uma trajetória de crescimento constante e sem interrupções.

É importante destacar que o fraco desempenho observado na última década não é resultado apenas da pandemia, mas também da dura recessão registrada entre o fim de 2014 e 2016 e da fraca retomada nos três anos seguintes.

De 1981 a 2021, a taxa de crescimento médio do PIB per capita foi de apenas 0,7% ano, de acordo com o levantamento do Ibre. A última década (2011 a 2020) foi a pior da história, com uma retração média de 0,6% ao ano, um resultado ainda pior que o registrado na década de 1980, quando o brasileiro ficou em média 0,4% mais pobre a cada ano. Considerando apenas o período de 2015 a 2020, a perda anual média foi de 2%.

Para o país romper o histórico de baixo crescimento e acelerar a retomada, a economista do Ibre lista a necessidade de uma agenda que inclua:

controle da inflação e consequente redução da taxa de juros e melhora do custo do crédito
equilíbrio das contas públicas e volta do registro de superávit primário por parte do governo (já são 8 anos seguidos de contas no vermelho)
redução das incertezas políticas e fiscais
melhora da confiança de empresários e maior criação de vagas formais de trabalho
avanço da agenda de reformas como a tributária e da melhoria do ambiente de negócios