"Beijava a boca dela ensanguentada", diz Homem que vai a júri 10 anos após bater na namorada e ficar em liberdade

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A punição saiu após dez horas de julgamento, nessa quinta-feira (23), na 1ª Vara Criminal de Aquidauana, a 131 km de Campo Grande. Marcos Cezar de Oliveira Vera, de 29 anos, que respondia por tentativa de homicídio, teve o crime desclassificado para lesão corporal dolosa, conforme a sentença. Indignada, a família da vítima diz que aguardou a resposta por quase 10 anos, porém, saiu de lá sabendo que o réu cumprirá a pena em liberdade.

"O que eu vi ontem foi um show de horrores. Havia algo estranho no júri, todas as testemunhas de defesa tentando demonstrar que o comportamento da minha sobrinha fez ela merecer a agressão, de vítima passou a ser tratada como ré, literalmente. Em momento nenhum, levaram em conta os laudos médicos e testemunho de quem viu. Ela mudou da cidade e, graças a Deus refez a vida, mas, estou muito indignado", afirmou ao G1 o tio da vítima, um servidor público de 40 anos

 

 

'Fiquei sem reação'

 

A vítima, uma manicure de 29 anos, conta que saiu do tribunal com a sensação de impunidade. "Eu fiquei chocada, sem reação, eu esperava no mínimo quatro anos. Eu frisei bastante que ele tentou me matar e foi muito injusto, muito injusto mesmo. No final da audiência, o juiz ainda o cumprimentou e disse a ele que poderia continuar a vida de cabeça erguida. É como se eu não estivesse ali, porque, para mim ele não me falou nada, não teve respeito a minha família. Durante todo esse tempo, eu saí da minha cidade e estava esperando por Justiça. É como se eles tivessem amparado tudo o que ele fez. Fui chamada de prostituta, golpista e ladra pelas testemunhas dele. Agora, vou pegar esse processo e levar em tudo o que é canto, não posso aceitar", ressaltou.

Já a mãe dela, usou as redes sociais para fazer um relato e dizer que está decepcionada com o resultado do júri, além de publicar uma foto da até então adolescente. "...após ter terminado com seu ex-namorado, ela foi perseguida e interceptada em um local escuro, jogada no meio de um brejo e cruelmente massacrada...por cerca de 50 minutos...quebrou seus dentes, dava mordidas e beijava a boca ensanguentada dizendo que ela não fosse dele não seria de mais ninguém e que ele iria matá-la para que pudessem ficar juntos em outro "local", dando a entender que a mataria e em seguida cometeria suicídio".

Além desta acusação, Marcos ainda possui extensa ficha criminal desde a adolescência, inclusive com passagens por estelionato, uso de moeda falsa, furto qualificado e a reincidência no crime de agressão, A reportagem entrou em contato com o advogado do réu. No entanto, ele não atendeu as nossas ligações.

 

Dia dos fatos

 

Nos autos, consta que Marcos foi acusado de tentar matar a sua ex-companheira no dia 11 de outubro de 2009. Durante a madrugada, ele a agrediu a socos na avenida Doutor Sabino, sendo que só não conseguiu finalizar o crime por conta da ação da Polícia Militar (PM).

A vítima passou por perícia e o laudo apontou que ela sofreu lesões graves, sendo necessário inclusive o afastamento "das atividades habituais por mais de 30 dias", algo que se estendeu por 90 dias por conta das declarações da jovem.

No plenário, o representante do Ministério Público Estadual (MPE-MS) argumentou haver "prova suficiente da materialidade e da autoria", pedindo a condenação dele. Já a defesa pediu a desclassificação para o delito e a absolvição do réu por legítima defesa. Os jurados então reconheceram, por maioria de votos, a materialidade do crime, além da autoria, porém, rejeitaram que o réu deu início à prática do crime. A pena resultou em 2 anos, 2 meses e 20 dias em regime aberto.

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