Arrependidos, 'zoeiros' prometem doar fantasias de Zé Gotinha em Maracaju

 / RAFAEL RIBEIRO

A imensa repercusão gerada na internet com a fantasia pouco convencional usada pelo Zé Gotinha em Maracaju no 'Dia D' da vacinação contra sarampo e poliomelite, no último sábado (18), deve acabar em boa notícia para os funcionários do Posto de Saúde Central da cidade, onde as imagens usadas para as piadas nas redes sociais foram feitas: arrependidos, alguns dos 'zoeiros' locais ficaram comovidos e prometeram doar novas roupas do famigerado personagem infantil para a prefeitura.

Conforme o Correio do Estado revelou na última terça-feira (21), o jovem que usou a fantasia que se tornou famosa em todo o Brasil estaria abalado com as piadas até certo ponto exagerada de alguns dos internautas, pouco preocupados com o gesto nobre por trás do ato, e estava com medo de ter a identidade revelada.

Horas depois, uma pessoas responsável pelo posto de saúde escreveu que se chegou a fazer o orçamento para uma nova fantasia, mas o custo de R$ 2 mil, considerado alto, inviabilizou o sonho do Zé Gotinha de Maracaju virar uma história que jamais viria a se tornar realidade. 

Foram os ingredientes suficientes para comover alguns dos próprios internautas de Maracaju, que se sentiram com a consciência pesada diante do drama vivido pelo Zé Gotinha local. Um deles foi um contador de 45 anos, que horas após a publicação da reportagem postou texto em sua rede social anunciando o gesto nobre. 

"Brincadeira a parte quero deixar aqui minha admiração ao trabalho do posto. Fiz a brincadeira porque vivemos de 'meme' né... Mas de forma alguma falaria mal do trabalho lá executado com primor. E concordo que temos de ajudar. Então vou doar uma fantasia do (Zé) Gotinha para o posto e aconselho a empresarios fazerem o mesmo. Ano que vem vai sobrar gotinha na cidade. E aos integrantes da campanha parabens", prometeu.

Bastou a postagem ser lida que a corrente de solidariedade na cidade foi sendo construída. Um comerciante de 37 anos foi outro a usar as redes sociais para organizar uma vaquinha afim de atingir o valor orçado da nova fantasia para o Zé Gotinha.

"Todo mundo aqui conhece o menino, quando o negócio se torna sério, temos de agir, mostrar nosso apoio a uma causa nobre e importante para as crianças. Maracaju pode sim ser motivo de brincadeira positiva, mas também tem de ser conhecida por ter um povo que se une em prol de campanhas que beneficiam toda a população. A situação atual do Brasil não está fácil. É hora de superar as diferenças, de religião, política e até de time de futebol (risos)", disse, por telefone, sem querer se identificar.

Se as promessas de solidariedade serão cumpridas, só o tempo dirá. Assim é o pensamento de funcionários do posto de saúde, que não aguentam mais falar sobre o assunto. Por dois dias a reportagem tentou conseguir alguma declaração, devidamente negada. Se soa óbvio que a brincadeira cansou, por outro a boa notícia é o apoio recebido pelo Zé Gotinha, que de prortagonista de piadas virou um ídolo na cidade. "As pessoas mudaram o tom. Agradecemos. Ele agora é visto como a boa pessoa que merece é", resumiu, de forma ríspida, uma servidora.

HISTÓRICO

Personagem criado pelo Ministério da Saúde em 1989, na então gestão José Sarney, Zé Gotinha foi desenvolvido para ter apelo junto ao público infantil, incentivar a vacinação no País e também enaltecer o fim da imunização apenas por seringa e agulha nos postos de saúde, fato que causava verdadeiro pânico nas crianças até aquele ano.

Com traços leves e delicados, a versão oficial teve os primeiros esboços feitos pelo estúdio do quadrinista Maurício de Sousa, pai da imortal Turma da Mônica das histórias em quadrinhos e desenhos. A campanha publicitária inaugural na televisão contou com a participação da apresentadora Xuxa, a então proclamada 'Rainha dos Baixinhos.'

Mas, com o passar do tempo e com a responsabilidade de divulgação das campanhas de vacinação repassadas às prefeituras, não demoraram a aparecer as versões, digamos, menos atrativas do icônico personagem, parte importante da infância de muitos brasileiros.

E neste ano coube a Maracaju figurar em sites e páginas de redes sociais pela internet afora como a responsável pelo pior 'cosplay' - como são chamadas pessoas fantasiadas com roupas de personagens da ficção - de Zé Gotinha.

As postagens feitas pela prefeitura em uma rede social, com fotos do Zé Gotinha no  renderam compartilhamentos de todo o Brasil. E, lógico, muitas piadas.

"Isso parece fantasia de filme de terror", exclamavam alguns dos internautas, mantendo a fama de que a internet, óbvio, não perdoa nada. Integrante da Ku Klux Klan (organização norte-americana de cunho racista), fantasma, camisinha usada... A imaginação no mundo virtual é fértil.

Afinal de contas, como a funcionária do posto de saúde destacou, por bem ou por mal, o Zé Gotinha de Maracaju cumpriu seu objetivo. A meta da Secretaria Municipal da Saúde local é vacinar ao menos 95% das mais de 2.478 crianças do município até o fim de agosto. Com o dia D, o índice alcançado atingiu cerca de 60% da meta, números bem maiores que os registrados nacionalmente e também em estados e municípios.  

 
 
 
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