Ricos e poderosos visitaram a cadeia em 2017, mas para população sensação ainda é de impunidade

 / Thiago de Souza

Apesar das prisões de políticos poderosos e empresários ricos em Mato Grosso do Sul, o sentimento que predomina na população ainda é de impunidade. 

A frase: ‘a polícia prende e a Justiça solta’, é muito lembrada entre aqueles que são consultados sobre a punição a homens públicos e empresários, principalmente quando o assunto é corrupção. 

Impunidade

A sensação de que alguma coisa vai mudar no país ainda está longe de alcançar a sociedade. Com 74 anos de vida, Raimundo Carlos Sobrinho já desistiu até de votar, tamanha a desilução na política e na Justiça. 

“Não acredito [ que vai ficar preso], porque tem menor que rouba e no outro dia tá solto, como que um político ou rico vai ficar preso? Já vi muita coisa de errado nessa vida, não acredito mais na justiça dos homens, por isso nem vou votar ano que vem. Nada muda”.

(CNJ investiga se Breno - óculos - foi favorecido pela mãe desembargadora - Foto: TopMidiaNews)

Favorecimento

Um outro caso que chamou a atenção do público em Campo Grande neste ano, foi de Breno Fernando Solon Borges, filho da desembargadora Tânia Garcia Freitas Borges. Ele foi preso em flagrante com 129 quilos de maconha, armas e munições de uso restrito. 

Breno passou alguns dias preso, mas foi agraciado com dois habeas corpus, que lhe renderam o direito de ficar custodiado em uma clínica psiquiátrica de luxo, em Atibaia (SP). A defesa dele alega transtorno de borderline, doença que afeta as relações sociais. 

As seguidas medidas judiciais que beneficiaram Breno chamaram a atenção do Conselho Nacional de Justiça, que investiga se a mãe dele usou do cargo para favorecer o filho. 

Assassino no trânsito

O estudante de medicina João Pedro da Silva de Miranda Jorge, 23 anos, colidiu a caminhonete que dirigia contra o carro de uma advogada, na madrugada do dia 2 de novembro, em Campo Grande. Como ele fugiu do local sem prestar socorro à vítima, que morreu, o mistério se ele bebeu ou não vai fica no ar. 
Filho de pais ricos,  Jorge se apresentou e pagou fiança de R$ 50 mil. Hoje ele responde o processo em liberdade. 

(Zeca Lopes foi condenado por pedolifia, mas recorre em liberdade - Foto: TopMidiaNews)

Pedofilia 

Nem a condenação de 19 anos por pedofilia, contra crianças de dez e 13 anos, colocou o empresário José Carlos Lopes, o Zeca Lopes, atrás das grades. Ele vai aguardar o apelo da sentença em liberdade. Lopes também foi alvo de uma operação da PF, que o aponta como sonegador de impostos. 

Em julho deste ano, Zeca Lopes foi um dos principais alvos da Operação Labirinto de Creta, desencadeada pela Polícia Federal e a Receita Federal. Ele é acusado de crimes contra a ordem tributária, ao abrir empresas, constituir dívidas diversas e fechá-las em seguida. 

Esses tipos de caso, apresentados pela imprensa, ajudam a formar a opinião da população, que se lamenta ao ver suspeitos e condenados caminhando livres, leves e soltos. 

Eraldo Arce, 28 anos, é técnico em enfermagem e chega a perder a esperança em dias melhores. 

“Quem tem dinheiro fica impune, até em crimes mais graves você vê isso, é ‘pagou, tá solto’. Queria acreditar que um dia vai ter justiça sem distinção de cor, de condição social, mas não acho que isso um dia vá acontecer”, lamenta. 

Explicação

Para o presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), a sensação de impunidade em relação aos corruptos é plenamente justificada pela demora nos julgamentos e no início do cumprimento da pena. Isto deixa a impressão de que vale a pena desviar dinheiro público no Brasil. 

Sobre os chamados ‘crimes do colarinho branco, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, diz que a impunidade é a primeira causa visível do quadro de corrupção institucionalizada e que um direito penal ineficaz criou um País de "ricos delinquentes".

O ex-prefeito Gilmar Olarte foi outro que entrou na mira da Justiça em 2017. Ele foi condenado a oito anos e quatro meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, no escândalo conhecido como ‘cheque em branco’. Ele recorre da decisão em liberdade.