Em Jardim-MS, as araras têm chamado a atenção de moradores e visitantes pela imponência de suas plumagens e pela forma como dão vida à paisagem urbana. Voando em bandos ou empoleiradas nas copas, essas aves exibem cores vivas como azul, amarelo ou vermelho, dependendo da espécie, contrastando com o verde das árvores e o cinza do asfalto. Elas se tornaram quase uma atração natural mas nem tudo é só beleza.
Nos últimos meses, observações em pontos bordejando a BR‑060, especialmente nas áreas centrais de Jardim, têm revelado um comportamento repetido: as araras estão cortando folhas de palmeiras. As folhas danificadas, junto com galhos novos, secam após tempo, o que ameaça a saúde das palmeiras plantadas nos canteiros.
A seguir, os aspectos técnicos desse comportamento, suas possíveis causas, o que as palmeiras sofrem, e porque plantar árvores vai além do agora — é pensar nas próximas gerações.
Comportamento das araras: possível alimentação e uso de folhas
Embora não existam estudos específicos confirmados até o momento em Jardim relatando exatamente esse tipo de dano nas palmeiras por araras, conhece-se bem, em literatura ornitológica, que araras se alimentam predominantemente de frutas, flores e nozes de palmeiras, além de por vezes consumirem partes vegetativas como folhas ou brotos quando outras fontes alimentares são escassas.
Em áreas urbanas, araras‑canindé (Ara ararauna) e araravermelha (Ara chloropterus) têm sido documentadas consumindo frutos ou sementes de palmeiras (e predando sementes), em razão da disponibilidade desses recursos ou da escassez de alternativas.
Esse tipo de uso de folhas para alimentação ou até para material de ninho é menos comum, mas não surpreendente entre psitacídeos (família das araras), especialmente em ambientes onde o recurso está limitado.
Impacto sobre as palmeiras nas margens da BR‑060
As palmeiras atacadas sofrem com:
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perda de grande parte do limbo foliar (a lâmina da folha), reduzindo sua capacidade de fotossíntese
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entrada de luz intensa nas folhas restantes ou no tronco, que normalmente ficariam sombreadas, o que pode causar estresse térmico
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maior exposição a pragas ou doenças, já que partes danificadas são portas de entrada de fungos ou insetos
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diminuição estética: palmeiras com muitas folhas secas ou quebradas perdem o vigor visual, importante para espaços públicos
Se esse dano for intenso e contínuo no tempo, a palmeira pode não se recuperar, ter crescimento atrofiado ou até morrer.
Por que plantar árvores é legado para as próximas gerações
Plantio urbano não é gesto imediato, mas investimento duradouro. Árvores proporcionam:
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sombra, conforto térmico para ruas e praças
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melhoria da qualidade do ar, captura de carbono
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conforto visual e psicológico para moradores
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abrigo e alimento para fauna local — araras inclusas
Quando as árvores são danificadas, o impacto reverbera: menos sombra, temperaturas mais altas, menos beleza, fauna desassistida.
Possíveis encaminhamentos
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realização de estudo local para saber o grau de dano das araras nas palmeiras da BR‑060
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monitoramento das palmeiras mais afetadas, avaliação de poda, replantio com espécies resistentes
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campanhas educativas para convívio sustentável entre fauna urbana e vegetação
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eventualmente, instalação de barreiras ou seleção de espécies de palmeiras menos atrativas ao comportamento de corte de folha por araras
As araras em Jardim são símbolo vivo da natureza urbana vibrante. Mas sua presença também convida à reflexão sobre como flora e fauna coexistem quando bem manejadas, as árvores embelezam, fornecem sombra, vida; quando danificadas, o impacto é duradouro.